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História Original de Santo Antônio de Campo Maior por Marion Saraiva Monteiro (1962)

A devoção a Santo Antônio aqui chegou com os primeiros homens brancos, talvez com o primeiro missionário nos meados ou último quartel do século XVII. "Desde 1656 já era relativamente fácil o caminho por terra do Maranhão para o Ceará". (Pereira da Costa. Crônica Histórica do Estado do Piauí.) Não é, pois, descabido supor que os missionários que por aquele tempo atravessavam os sertões do Piauí, numa dessas passagens, tenham plantado aqui a semente da fé e da devoção a Santo Antônio.

A pequenina imagem aparecida no tronco de uma juremeira, providencialmente esquecida ali, à beira do riachinho, foi logo tida como milagrosa e por todos, piedosamente, venerada.

A freguesia que primeiro fora chamada do Longá, passou a chamar-se de Santo Antônio do Surubim, e o arraial dos primeiros desbravadores, que ficava à margem daquele rio, foi abandonado pela nova situação em torno do regato de águas cristalinas, que logo se chamou riachinho de Santo Antônio.

Conta a lenda que tendo sido levada para à casa da pessoa que a encontrara, a imagem "anoiteceu e não amanheceu" no altar que lhe tinham, ali, preparado: voltara para o tronco da juremeira, perto do riachinho, fuga que foi logo interpretada como desejo do Santo de que lhe fosse levantada no lugar uma capela onde pudesse ser venerado por seus devotos. Foi feita a humilde capelinha, certamente coberta de palha de carnaúba e, alguns anos depois, uma igreja maior foi construída no mesmo lugar, pois a população tendo aumentado rapidamente, a capelinha já não comportava o número dos fiéis.

Contavam nossos avós que dentro da parede, por trás do altar do santo, fora religiosamente guardado o tronco da juremeira em que a imagem tinha sido encontrada.

As lendas de imagens aparecidas, todas se assemelham. A história do aparecimento da imagem de Santo Antônio de Jerumenha é idêntica à história de Santo Antônio Aparecido, de Campo Maior. Qual o original e qual a cópia não sabemos... Mas, Deus não é tão falto de imaginação que não fosse fazer dois milagres diferentes. Entretanto, em sua divina condescendência, para chegar a seus fins, muitas vezes aceita a cooperação humana. Nesse caso o fim seria entregar a povoação nascente ao cuidado do grande taumaturgo português, e aqui, onde os patrícios situavam suas fazendas, dar-lhe uma feitoria onde pudesse cuidar da administração dos bens de seu Senhor, trabalhando na salvação de nossas almas.

A pequena imagem de 46 centímetros de altura, artisticamente esculpida em cedro, é perfeita nos menores detalhes, tendo as características das estátuas feitas pelos escultores portugueses da época. O burel franciscano, do lado esquerdo, é graciosamente repuxado para cima, e cai em pregas direitas, deixando ver o hábito dos cônegos regulares de Santo Agostinho, dos quais Fernando de Bulhões fizera parte antes de entrar para a Ordem franciscana; sobre o missal está sentado o Menino Jesus tendo o rosto voltado para Santo Antônio como se estivessem conversando.

A pintura da imagem foi, há poucos anos, renovada de modo mais rico, no Rio de Janeiro, tendo sido o trabalho mandado fazer a expensas de um grande devoto de Santo Antônio, o Capitão Ovídio Bona. Um rico resplendor de ouro e na mão direita uma cruz do mesmo precioso metal, dantes enfeitavam a imagem, que assim ficava sempre no altar sem que ninguém tocasse nesses objetos de valor: hoje são outros os tempos e costumes. Santo Antônio usa diariamente resplendor e cruz de Prata, metal menos precioso, mas também menos cobiçado, reservando-se os enfeites de ouro somente para a saída do Santo na procissão de encerramento da festa, que se faz, com grande pompa, todos os anos, de 1° a 13 de Junho.

Os festejos começam a 31 de maio à noite, levando-se em procissão a bandeira com o retrato do santo, e logo após se faz o levantamento do mastro, ao vértice do qual fica a mesma desfraldada até ao depois da festa. Às 9 horas, música, sino e foguetes, por conta do dia seguinte. Não há campo-maiorense que não vibre de entusiasmo no tempo da festa do nosso padroeiro, e fiéis acorrem de outras cidades, enquanto o papocar de foguetes, música e repicar de sinos durante o dia e à hora da novena, são a manifestação exterior do regozijo de toda a cidade. Cada noite da trezena é patrocinada por uma família, um grupo, uma classe, ou uma pessoa devota pagando uma promessa. São os mordomos da festa. E há entre estes uma santa emulação, querendo cada qual fazer sua noite mais bonita, mais cheia de flores o altar... e mais foguetes papocando no ar.

Desde o ano de 1912 a 12ª noite pertence à família Saraiva. Ascânio Saraiva vindo naquele ano a Campo Maior em visita a seus pais, e estando aqui no tempo da festa, tomou, por devoção a Santo Antônio, o encargo de dar uma noite da trezena, escolhendo o dia 12 por ser aniversário de seu casamento dando esta demonstração do seu agradecimento ao grande protetor por lhe ter dado uma esposa tão de acordo com os desejos de seu coração. Foi fiel até a morte, no ano de 1943, quando deu sua noite pela última vez. Seu sobrinho e genro, Aldenor Saraiva Monteiro, se tornou daí por diante o grato dever de honrar por si e por toda a família, o querido padroeiro, patrocinando uma noite da festa, noite a que dava o máximo brilho, Foi este grande devoto de Santo Antônio chamado por Deus em 6 de dezembro de 1956. Desde junho de 1957 o continuador da tradição e representante da família Saraiva na festa de Santo Antônio, é Josias Saraiva Portela.

Neste ano de 1962, cinquentenário da nossa noite, queremos dar-lhe o maior esplendor possível, para honra do grande Santo e do nome de nossa terra neste ano que é também o do bicentenário da instalação da vila de Campo Maior.

Que Santo Antônio nos abençoe e nos guarde, continuando, do seu trono, a velar cuidadosamente, pelo rebanho que lhe foi confiado.

Fonte: MONTEIRO, Marion Saraiva. Devoção a Santo Antônio de Campo Maior - Lembrança do dia 12 de Junho de 1962, Campo Maior, Piauí.

 

 

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