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  10:00

Futebol de rua

Se a Seleção Brasileira de Futebol anda ruim das pernas, como mostraram os últimos jogos das eliminatórias da Copa do Mundo, talvez a próxima geração nos traga novas alegrias

 Fonte: Google Imagens

Menino é menino. E basta um terreno baldio, de preferência plano, para a molecada fazer daquele espaço inútil um estádio de futebol, maracanã de suas glórias anônimas.

            Juntam-se alguns meninoleques do bairro e formam-se times para jogar a copa do mundo das ruas. Um bom horário para o futebol de rua são os fins de tarde. O campinho improvisado é de todos, principalmente do dono do terreno baldio que vez ou outra aparece para espantalhar a criançada do local. A única coisa verde-grama naquele lugar são os sonhos pueris de alguns meninos em se tornarem um jogador profissional para vencer a pobreza nacional. As chuteiras para jogar no baldio são da melhor marca possível – pés. As traves do gol, qualquer pedra nascida para ser trave de terreno de bairro, mas as preferidas são os tijolos que se retiram da construção da vizinhança. A bola pode ser uma cabeça de boneca, uma bola de papel envolto em plástico amarrado ou uma bola surrada de gols, quando alguém tem, é claro. Aí é colocar o pé mais que no chão e brincar de uma disputa saudável.

 

Craques desconhecidos

            O time é formado a grito, à convocação antecipada, a coleguismo de rua, à vontade de vencer sempre e jogar contra todos. As regras do jogo são costumeiras. Dois times jogam sem tempo determinado: o primeiro que fizer um gol ganha a partida e continua jogando até ser derrotado por algum time. Toda partida é um clássico. Tem escanteio cobrado, pênalti perdido, firula de craque; tem jogador fominha, goleiro-gato, atacante garapeiro, meio-campo astucioso. Juiz ali não existe porque não existe julgamento sem inclinação. Levar falta é algo que deve ser um consenso entre os dois times senão dá em briga, choro e ranger de dentes.

            Espectadores torcem por um amigo, um vizinho, um irmão que joga para ganhar do time adversário. Enquanto isso, outros jogadores aguardam na beirada do campinho o fim da partida para entrar em campo. Goleiro sofre com joelho ralado em defesa do gol e da honra do bairro; menino respira poeira do campinho até cair doente, mas não cede a vez para ninguém jogar; caco de vidro ou pedra pontuda faz marcação cerrada nos dois times acirrados; um menino grandalhão sempre dá trombadas propositais em jogadores mirradinhos.

 

Bola na rede

            Dar uma bicuda na bola – um chutão ao estilo patada atômica – é a apelação de um gol que não sai nunca. Aí o goleiro calça os chinelos nas mãos para aguentar as boladas que recebe. O ruim é quando a bola erra o alvo e vai bater na janela de alguma casa próxima. A redonda às vezes não retorna, vítima de tesoura ou faca irritada; quando vem, vem cheia de xingamentos e vizinhos. E quando menos se espera, um pai-técnico surge para dar palpite no jogo da molecada. O filho-artilheiro fica todo errado. Algum tempo depois, uma mãe-torcedora aparece com um cinturão na mão, torcendo para encontrar o filho e o esposo que disseram que dariam apenas uma voltinha no bairro.

            Benjamim Wright, premiado radialista e cronista de esportes, formulou o que hoje é o clichê "O futebol é uma caixinha de suspresas". E o futebol de rua, desses de terrenos baldios do  tamanho do Brasil? Como torcedor doente de um jogo saudável, a molecada escreve com os pés no chão que o futebol de rua é a porta da caixinha de surpresas.

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