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  07:20

CONTRA A IDOLATRIA DO ESTADO Pr. Marcus Paixão

O Brasil está no meio de uma turbulência política e econômica inquestionável. Essa última, a turbulência econômica, é fruto de duas mazelas do governo: sua falida política populista, carregada de irresponsabilidades fiscais, e a rede de corrupção que se instalou no Planalto

 

FERREIRA, Franklin. Contra a Idolatria do Estado: o papel do cristão na política. Vida Nova, São Paulo, 2016, 288 p.

 

O Brasil está no meio de uma turbulência política e econômica inquestionável (na verdade, questionável apenas por petistas, que não conseguem enxergar o que o mundo inteiro está vendo). Essa última, a turbulência econômica, é fruto de duas mazelas do governo: sua falida política populista, carregada de irresponsabilidades fiscais, e a rede de corrupção que se instalou no Planalto Central, que acabou revelando o maior sistema de corrupção jamais visto no país. Até a igreja Católica Romana e a igreja Evangélica foram atingidas pela lama da corrupção, quando, por meio de alguns dos seus líderes, dinheiro sujo foi contabilizado em suas contas. Esse tipo de cenário tem afastado a maioria dos cristãos da discussão política brasileira. Os cristãos preferem ficar fora desse lamaçal a ter que se envolver com esse mundo de corrupção. Existe até um velho ditado que diz: “todo cristão (especialmente pastor) que se envolve na política vai se corromper ou já está corrompido”. Dessa forma, a preferência geral dos cristãos é não se envolver na vida política, salvo cumprindo sua obrigação de votar no dia da eleição.

 

Embora o cenário seja mesmo estarrecedor, o pastor Franklin Ferreira nos dá bons motivos para pensar melhor sobre o assunto. Em seu mais recente livro, Contra a Idolatria do Estado: o papel do cristão na política, ele nos chama e rever nossas posições à luz da história e das Escrituras. O argumento de Franklin, em todo o livro, eu diria, é praticamente irrefutável. O cristão é desafiado a reler as Escrituras e se posicionar firmemente na vida política do seu país, estado e município. O autor não reconhece a omissão como uma saída bíblica e nem como uma solução para conter as crises. Na verdade, a omissão do cristão é condenada como ilegítima à luz das Escrituras. Ele também alerta o cristão contra o perigo das ideologias socialistas, esquerdistas, que sempre terminaramem fracasso no mundo, onde foram experimentadas, e ainda demonstraram ser tendenciosas ao totalitarismo, fascismo e comunismo e toda a tragédia que esses sistemas proporcionaram ao mundo. O Nazismo é posto como irmão gêmeo da política de esquerda e dos sistemas que promoveram o horror no mundo.

 

Contra a Idolatria do Estado é um livro de volume mediano, com 288 páginas, de leitura rápida. A escrita é fácil, ausente de frases mais complexas e nitidamente preparada para atingir o maior número de leitores. A obra está dividida em quatro partes: Primeira parte, Fundamentos bíblicos, que apresenta dois capítulos (1. O povo de Deus sob o risco de extermínio; 2. A carta de Paulo aos romanos: o poder do evangelho e os limites das autoridades estabelecidas). Nesses dois capítulos o leitor vai perceber que sempre houve um grande envolvimento político dos cristãos na Bíblia. Destaque especial para a interpretação e exegese que o autor faz ao comentar o livro de romanos, no segundo capítulo. A segunda parte é intitulada Questões de consciência, e também é formada por dois capítulos (3.Totalitarismo, o culto do Estado e a liberdade; 4. Espectro político, mentes cativas e idolatria). Aqui Ferreira faz algumas ressalvas políticas, dos variados sistemas que socialistas e totalitários. A quarta parte, Direções teológicas, tem os capítulos 5. A Igreja Confessante e a “disputa pela igreja” na Alemanha (1933-1937); e o capítulo 6, A relação entre a igreja e o Estado na perspectiva reformada. Aqui o autor nos faz rever a Alemanha nazista e a influência da igreja, especialmente de Karl Barth e D. Bonhoeffer. A parte final, Aplicações práticas, conta com os seguintes capítulos: 7. “Erga a voz”: a violência, a ideologização do debate e uma oportunidade para a igreja; e 8. Uma agenda para o voto consciente. Destaque para o direcionamento proposto pelo autor para um voto consciente. O texto termina com o apêndice, que apresenta a Declaração Teológica de Barmen, seguida por uma pujante bibliografia, extremamente importante para o leitor que deseja explorar mais alguns dos aspectos abordados por Franklin Ferreira.

 

 

O livro começa com uma palavra do autor sobre a composição do livro e uma rápida apresentação do conteúdo. A obra tem dois pontos negativos: a fonte poderia ser um pouco maior, tornando o livro mais volumoso, mas de melhor leitura, mesmo que isso implicasse um formato maior. O formato maior seria ideal para um livro dessa envergadura, espero que numa segunda edição o livro surja em novo formato. O problema se agrava substancialmente nas notas de rodapé. O leitor precisa ter muita paciência para ler uma fonte tão pequena. O outro problema que vejo também está relacionado às notas de rodapé; são as excessivas notas que o autor utilizou. As notas são de suma importância, reconheço isso, mas são tão numerosas e tão extensas, que muitas vezes ultrapassam o volume do texto principal. Em muitos casos as notas ultrapassam a página, correndo para a página seguinte. Esse exercício pode acabar atrapalhando a leitura. Ressalto que o conteúdo das notas de rodapé é de total importância no livro. A leitura sem as notas acaba rebaixando o poder da obra, pois as notas suprem muitos contextos que não estão apresentados no texto principal. A impressão tem qualidade, mas se tivesse optado pelo papel Pólen Soft, o leitor poderia ter uma melhor apresentação visual.

 

O livro que Franklin Ferreira produziu é poderoso e um extraordinário auxílio à igreja, tanto a protestante, como também à própria igreja católica (no livro há inúmeras citações positivas do papa Bento XVI), o que pode surpreender muitos evangélicos brasileiros, mas isso apenas ratifica a seriedade da obra e sua imparcialidade. Esse é um ponto alto no autor, que é figura de reconhecida intelectualidade, professor e conferencista, autor de vários livros e artigos. Bastante expressivo na ala acadêmica protestante, Franklin Ferreira é pastor batista de posição teológica reformada. Seu livro é um verdadeiro libelo, que algumas vezes chega a lembrar a escrita de Lutero, mais sem o sarcasmo do reformador alemão. A obra chega num momento decisivo, e tem a força de quebrar paradigmas que há tempo demais vem sendo alimentados no cristianismo brasileiro. O livro segue uma tendência da editora Vida Nova, que optou por publicar obras mais relacionadas a política e cristianismo. A editora publicou o autor americano Wayne Gruden, e Kevin vanHoozer. Mas nenhuma dessas obras é tão necessária e tão certeira para o povo brasileiro do que o texto que saiu da pena de Franklin Ferreira.

 

Pretendo fazer uma segunda resenha, analisando com mais profundidade o conteúdo em si. Nesse primeiro momento foi meu objetivo trazer à tona apenas alguns aspectos mais genéricos do livro e não seu conteúdo mais complexo e suas argumentações. Espero e recomendo que o leitor compre esse livro e o leia com bastante atenção, não apenas uma vez, mas muitas vezes. Esse livro deveria ser uma leitura obrigatória para pastores e políticos cristãos, mas não apenas para eles, mas para todo o povo brasileiro, visto que o livro é vital para entender o cenário político atual.

Da Redação. campomaioremfoco@hotmail.com