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Quem é a especialista que virou piada ao dizer que faccionado de fuzil se combate com pedrada

O Rio de Janeiro acaba de viver a maior operação policial de sua história — uma ação conjunta das forças de segurança nos complexos da Penha e do Alemão que deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais. O governador Cláudio Castro chamou de “sucesso”.

Mas, enquanto o governo comemorava o resultado, uma entrevista de poucos minutos conseguiu virar piada nacional.

A protagonista foi Jacqueline Muniz, cientista política e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), que se tornou alvo de críticas e de uma chuva de memes nas redes sociais depois de apresentar uma nova teoria de tática de combate ao crime organizado, sempre com armamentos pesados: combater os narcoterroristas das facções com uma pedra.

Durante uma entrevista sobre a operação, Jacqueline afirmou que o armamento pesado tem “baixo rendimento criminal” e que, em certas situações, o bandido armado “pode ser facilmente neutralizado até por uma pedra na cabeça”. 

Sim, uma pedra.

“O criminoso tá com o fuzil na mão, ele é facilmente rendido por uma pistola, até por uma pedra na cabeça. Enquanto ele tá tentando levantar o fuzil e colocar o fuzil pra atirar, alguém joga uma pedra e já derrubou o sujeito.”

A fala, feita originalmente em tom técnico, viralizou de forma explosiva nas redes sociais — não exatamente pelo rigor científico, mas pelo inusitado da proposta. O deputado federal Nikolas Ferreira foi um dos primeiros a compartilhar o trecho, ironizando:

“Se você subir a favela e fizer um bandido armado com fuzil ser rendido com uma pedrada na cabeça, eu faço campanha pro Lula. Desafio lançado, pica-pau.”

Em poucas horas, a “tática da pedra” virou piada nacional. Internautas sugeriram que as polícias “comprassem estilingues”, “investissem em catapultas” e até que o Exército abrisse uma “linha de treinamento medieval” para enfrentamento urbano.

Quem é Jacqueline Muniz

Jacqueline Muniz é cientista política e antropóloga, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Antropologia Social pela UFRJ e doutora em Ciência Política pelo IUPERJ.

Professora da UFF e pesquisadora do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos, tem mais de 30 anos de experiência na área de segurança pública.

Entre outros cargos, foi diretora do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública da Senasp, do Ministério da Justiça no primeiro governo do atual presidente Lula; e coordenadora de Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, no governo de Anthony Garotinho.

É autora de livros e projetos, como o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ) e o Fundo Nacional de Segurança Pública.

Ou seja, currículo não falta. O problema foi o “arremesso retórico” que acertou em cheio o debate público.

“Você não tem noção do que é subir o morro”

Após a polêmica, Jacqueline participou de um debate sobre segurança pública com o deputado federal Mário Palumbo (MDB-SP), conhecido como Delegado Palumbo, em um programa no YouTube.

Jacqueline criticou o planejamento das operações, afirmando que muitas colocam policiais em desvantagem tática:

“Não dá pra colocar um policial sozinho, sem visada de 360º, num território acidentado como o do Alemão. Operações exigem planejamento e superioridade de meios.”

Palumbo rebateu dizendo que as forças policiais enfrentam risco constante e que é injusto “julgar a ação com presunção de culpa”, destacando a realidade das comunidades dominadas pelo crime.

“Quando a gente vai cumprir uma operação, não sabe o que vai vir. Pode ser uma emboscada ou um drone com bomba. Em várias áreas o Estado não entra, e isso é uma afronta à soberania.”

O delegado encerrou o debate com a frase que resumiu o clima do encontro:

“Você não tem a menor noção do que é subir o morro. Fica cagando regra aí.”

Entre o Estado e o crime

Muito antes da “tática da pedra”, Jacqueline já havia causado controvérsia ao afirmar que “quem organiza o crime é o Estado”, sustentando que o poder público “governa com o crime, e não contra ele”.

“Não existe território no Rio de Janeiro em que a polícia não entre. A polícia entrega, terceiriza e arrenda territórios populares onde se controla a população com mecanismos coativos. O Estado negocia sua presença.”

Ela também costuma associar o crime organizado ao financiamento político e religioso, dizendo que “as principais lavanderias do dinheiro do crime” passam por “carreiras políticas, caixa dois e algumas igrejas”.

No fim, a polêmica serviu de retrato do país, onde o debate sobre segurança pública oscila entre a tragédia e o humor involuntário.

E se depender da criatividade brasileira, talvez a próxima grande inovação tática venha acompanhada de capacetes, afinal, nunca se sabe quando uma “pedrada” pode fazer parte da estratégia.

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