
A Transnordestina Logística adiou nesta quinta-feira (23) o início do transporte de cargas entre Piauí e Ceará, previsto para esta sexta-feira (24), por falta de licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Segundo a empresa, a ferrovia está concluída e tem autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para iniciar as operações comissionadas — fase de testes com carga real. Todos os testes técnicos foram aprovados.
Apesar da estrutura pronta, a Licença de Operação do Ibama ainda não foi emitida, o que impede o início oficial das atividades. Procurado, o instituto afirmou que pendências técnicas e documentais que impedem a devida conclusão do processo de licenciamento.
“Lamentamos informar o adiamento do início da operação e dos eventos agendados nos dias 24 e 25 de outubro. A Transnordestina Logística, junto com o Ministério dos Transportes, não tem medido esforços para iniciar as operações o mais breve possível”, informou a empresa.
Primeira viagem e trajeto
O trem sairia de Bela Vista do Piauí às 10h de sexta-feira (24) e chegaria em Iguatu, no Ceará, às 10h de sábado (25), após percorrer 585 km em cerca de 20 horas.
A viagem seria acompanhada pelos governadores Rafael Fonteles (PI) e Elmano de Freitas (CE), além de autoridades federais, estaduais e municipais.
O carregamento seria feito próximo ao futuro Terminal Intermodal de Cargas do Piauí (TIPI), da própria Transnordestina. O descarregamento ocorreria perto do Terminal Logístico de Iguatu, em construção por empresários locais.
Uma carga de farelo de milho já estava pronta para a viagem inaugural.
Avanço das obras
Com 1.206 km de extensão, a ferrovia é um dos maiores projetos logísticos em andamento no Nordeste. A Fase 1 já tem 78% de avanço físico, com 676 km prontos e 280 km em obras, divididos em seis lotes.
Mais de 4 mil trabalhadores atuam nas obras. Os lotes 4 e 5 estão com trilhos, dormentes e brita em 108 km. Já os lotes 6, 7, 8 e 11 seguem com infraestrutura em 178 km.
A previsão é concluir a Fase 1 até 2027, conectando a ferrovia ao Porto do Pecém (CE). A Fase 2, com 151 km no Piauí, deve ser retomada no primeiro semestre de 2026 e finalizada em 2028 — um ano e meio antes do prazo original.
Histórico do projeto
As obras começaram há 19 anos. Metade da ferrovia já está pronta. O projeto foi alvo de investigações do Tribunal de Contas da União (TCU) e chegou a ser paralisado em 2016 por suspeitas de irregularidades.
Apesar do histórico, o avanço das obras no Piauí e no Ceará é considerado estratégico para a logística e o escoamento da produção agrícola e mineral do Nordeste.
Nota do Ibama
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) esclarece que, até o momento, não foi possível emitir a Licença de Operação (LO) referente à ferrovia de responsabilidade da Transnordestina Logística S.A., uma vez que persistem pendências técnicas e documentais que impedem a devida conclusão do processo de licenciamento ambiental.
Entre os principais pontos ainda não atendidos pelo empreendedor, destacam-se:
- Ausência de aprovação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), instrumento essencial para assegurar a adoção de medidas preventivas e de resposta a eventuais situações de emergência durante a operação da ferrovia;
- Ausência de manifestação favorável do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), considerando que o traçado da ferrovia afeta diretamente comunidades quilombolas; e
- A análise das informações complementares apresentadas pela empresa relativas ao Plano Ambiental de Operação (PAO) e ao atendimento das condicionantes ambientais, atualmente sob avaliação das equipes técnicas, protocolados respectivamente em 07/10/2025 e 15/10/2025.
O Ibama ressalta que todas as análises técnicas vêm sendo conduzidas dentro dos prazos e procedimentos previstos e que os ajustes no cronograma de emissão da Licença decorrem exclusivamente da necessidade de garantir o cumprimento integral das exigências técnicas e legais que garantam a segurança socioambiental da operação.
O Instituto reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e a proteção socioambiental, assegurando que a Licença de Operação somente será emitida quando todas as exigências técnicas forem plenamente atendidas e quando for comprovada a viabilidade ambiental da operação da ferrovia.
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