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  09:52

Como a estética “Brazilcore” reflete a síndrome de vira-lata do brasileiro

Se você é uma pessoa cronicamente online, viu que, em meados de 2022, uma tendência começou a surgir no TikTok: ela se chamava “brazilcore” e, de repente, todo mundo começou a querer aderir a ela. Depois de algumas menções na rede social, ela se espalhou rapidamente e chegou a atingir mais de meio milhão de publicações nas redes. Isso é um exemplo da força do Brasil e do poder que ele pode exercer internacionalmente.

E, para além da moda, a música — com o funk brasileiro sendo utilizado por vários músicos internacionais (como Beyoncé e Rihanna) —, o cinema alcançando novos patamares, com o filme “Ainda Estou Aqui” sendo o maior símbolo atual disso, e “O Agente Secreto” seguindo os passos dele, mostram os gringos descobrindo a força dos brasileiros no engajamento digital.

Estamos vendo cada vez mais a força do Brasil mundo afora. Os gringos estão percebendo isso e voltando os olhos para nós. Porém, muitos brasileiros ainda não enxergam a própria força. E, por isso, quis trazer esse assunto e falar sobre como temos potencial — só precisamos enxergá-lo.

1. Como a estética "brazilcore" começou?

Em 2022, as pessoas começaram a reparar que alguns gringos, influenciadores ou artistas famosos, estavam fazendo postagens usando as cores do Brasil ou a camisa da seleção brasileira. Depois disso, muitos brasileiros passaram a falar sobre a suposta “tendência” e a querer usá-la em seus looks. Assim, ela cresceu de forma frenética nesse período.

Hailey Bieber usando camisa com as cores do Brasil. Reprodução: pinterest

Vejo dois grandes motivos por trás desse boom:

Primeiro, era ano de Copa do Mundo, e na Copa todos os brasileiros despertam seu espírito patriota e ficam super empolgados para torcer pela seleção brasileira. Além disso, em 2022, os anos 90 e 2000 estavam bombando muito (e permanecem até hoje). E esses períodos foram quando o Brasil se consagrou como uma das maiores seleções de futebol do mundo, conquistando o título de único pentacampeão — o que fez com que o país tivesse muito prestígio e fosse conhecido como o país do futebol.

Copa do Mundo de 2002, quando o Brasil se tornou o primeiro pentacampeão mundial.
Reprodução: Google

Segundo, nessa mesma época, havia uma necessidade muito grande de desvincular elementos característicos do Brasil — como nossa bandeira, nossas cores e nossa camisa da seleção — de um partido político de extrema direita, que, em sua campanha, se apropriou desses símbolos brasileiros para se dizer patriota e como forma de divulgação política. Depois dessa apropriação, muitas pessoas passaram a ver com maus olhos esses símbolos, e precisávamos, mais do que nunca, separar uma coisa da outra. Afinal, não são elementos de um partido político, e sim símbolos do nosso patriotismo e amor pelo país — longe de representar um partido X ou candidato X de extrema direita.

Depois da Copa do Mundo, essa tendência caiu um pouco, mas ainda víamos — e vemos até hoje, aqui e acolá — alguém postando algo com a camisa do Brasil e a #brazilcore ou #brasilcore.

2. O que há por trás da tendência?

Após o brasilcore viralizar, uma pauta foi levantada: por que essa estética está viralizando agora e sendo vista como algo novo se isso sempre existiu aqui?

A cultura de usar camisa da seleção, shorts e Havaianas sempre existiu nas favelas e sempre foi muito marginalizada e vista como “brega” ou feia. Ninguém nunca deu a devida atenção. Só foi preciso os gringos começarem a usar para os brasileiros acharem lindo e quererem usar.

Brasileiros com a camisa da seleção, shorts e havaianas em um bar. A verdadeira essência da
estética “brazilcore”. Reprodução: pinterest

E isso nos traz um questionamento: por que nós só conseguimos enxergar o devido valor de algo que faz parte da nossa cultura depois que alguém lá fora enxerga?

3. Complexo de vira-lata

A resposta para essa pergunta é simples — e, ao mesmo tempo, muito complexa.

Lá em 1950, o jornalista Nelson Rodrigues cunhou o termo (ou teoria) “Complexo ou Síndrome de Vira-lata”, que fala sobre uma tendência que os brasileiros têm de se sentirem inferiores aos países estrangeiros, como se tudo que fizéssemos não fosse o suficiente ou não alcançasse os padrões europeus.

O brasilcore é um reflexo disso, algo que sempre existiu dentro do país e ninguém ligava ou gostava, mas após verem poucos grngos usando, já fizeram disso uma grande coisa e quiseram aderir à modinha gringa. É reflexo de algo que acontece há muito tempo — e, sem dúvidas, antes mesmo de Nelson Rodrigues trazer esse termo.

4. Já deu de viralatismo

É preciso dizer que o Brasil é um país com muito potencial (sim, ainda é preciso), pois muitas pessoas não conseguem ou não querem enxergar.

Nós somos grandes, tanto em extensão quanto em cultura, e temos uma grande possibilidade de nos tornarmos uma potência. Mas falta estrutura, falta investimento, falta cobrança e falta, principalmente, a crença dos próprios brasileiros de que o país pode ser um país de primeiro mundo, sim!

Já deu de falar e acreditar que somos ruins. Já deu de acreditar que só o que é estrangeiro é bom. Chega dessa visão que foi imposta por colonizadores que só queriam explorar nossas terras e nossos recursos.

O Brasil pode ser grande, sim — mas, antes que estrangeiros enxerguem nosso potencial, nós mesmos precisamos fazer isso e, aí sim, mostrar isso para o mundo.

Somos um dos maiores exportadores do mundo. A seda que exportamos é uma das melhores do mundo (não é à toa que as marcas de luxo a querem), e isso significa muitas coisas. Podemos ser uma potência econômica, no cinema, na música e na moda também — só precisamos começar a entender isso (e cobrar quem pode fazer algo a respeito, né? Alô, autoridades).

Só seremos valorizados pelos outros quando começarmos a nos valorizar primeiro.

Você acredita?

Com carinho,

B.C.

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