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  19:52

Como surgiram as fast fashions — e por que você deveria repensar suas compras

Em algumas lojas, sejam elas digitais ou físicas, uma peça de roupa chega a ser mais barata do que um lanche ou um PF(prato feito) hoje em dia. Você pode olhar pra isso e pensar: nossa, que incrível! Mas já parou pra pensar por que é tão barato?

Pra quem ainda não me conhece, meu nome é Sabrina, também conhecida como Brida, sou estudante de moda e tenho um canal no YouTube (onde falo sobre moda também). Gosto de falar de moda de forma crítica, leve e consciente — e esse tipo de coisa sempre me faz refletir. Afinal, quando uma blusa custa menos que um prato feito, tem alguma coisa aí que não bate. E é exatamente sobre isso que a gente vai falar hoje.

Toneladas de lixo, grande uso de plástico, trabalho explorado... essas são só algumas das características da forma de produção que conhecemos como fast fashion. E hoje, quero te levar em uma viagem no tempo para entender melhor como tudo isso começou — e por que chegou até aqui.

1. Um giro pela história 

Como vocês sabem, sempre gosto de trazer um pouco de contexto histórico. Acredito que entender o passado nos ajuda a enxergar o presente com mais clareza — e é sempre bom alimentar o cérebro.

Desde a pré-história, os seres humanos sentiram a necessidade de se cobrir, seja para proteger a pele, aquecer o corpo ou se adaptar ao ambiente. Com o tempo, o que era apenas funcional se transformou em símbolo de status. As roupas passaram a representar poder, riqueza e posição social.

Tecidos eram caros, difíceis de tingir, e as roupas eram todas feitas à mão — primeiro com agulhas de ossos, depois com agulhas de ferro. Até que em um momento da história, tudo mudou.

Agulhas feitas com ossos

2. Criação da máquina de costura e Revolução Industrial 

Esse momento de mudança foi a Revolução Industrial. A forma de produzir roupas foi completamente transformada com invenções como o tear mecânico, criado por Edmund Cartwright em 1784, que acelerou drasticamente a produção de tecidos.

Em 1830, o alfaiate Barthelemy Thimonnier patenteou uma máquina de costura que imitava a costura manual. No início, ela foi rejeitada por alfaiates e costureiras, que temiam perder seus empregos (mal sabiam que estavam presenciando o começo de uma revolução na maneira de produzir roupas).

Mais adiante, com o aperfeiçoamento das máquinas, surgiu o conceito de ready-to-wear (pronto-para-vestir), nos anos 1920. Essa mudança foi enorme: antes, as roupas eram feitas sob medida; com o pronto-para-vestir, passaram a ser produzidas em massa, com tamanhos padrão (P, M, G), acessíveis a muito mais pessoas.

Uma cópia da máquina de Barthélemy

3. Crise do petróleo e surgimento das fast fashions

Chegamos a 1973. O mundo vivia a crise do petróleo: preços altíssimos e impactos severos na economia global. Foi nesse cenário que nasceu o modelo de fast fashion, como uma resposta das indústrias têxteis que precisavam cortar custos e continuar vendendo.

Mas afinal, o que é fast fashion?

Fast fashion, que significa literalmente "moda rápida", é um modelo de produção em que grandes quantidades de roupas são feitas em pouquíssimo tempo, com materiais baratos e, na maioria das vezes, de baixa qualidade. (Aposto que você já comprou uma blusinha pela internet que, em menos de um mês, já não era mais a mesma... tô errada?)

4. As fast fashions representam algum problema?

Faz um cálculo comigo: se a fast fashion surgiu por volta de 1970, e agora estamos em 2020 e poucos, isso dá cerca de 50 anos. Parece pouco, né? Mas nesse curto período já acumulamos mais impactos negativos do que em toda a história da moda até então. E eu vou te dar alguns fatos para mostrar como isso aconteceu .

- A indústria da moda produz 150 bilhões de peças por ano no mundo todo.

- 85% dos têxteis fabricados vão parar no lixo a cada ano.

- A lavagem de roupas libera 500.000 toneladas de microfibras nos oceanos todos os anos. (E não só nos oceanos — a gente bebe, come e até respira microplásticos todos os dias.)

O modelo fast fashion vende a ilusão de acesso democrático à moda, e por um lado realmente é, nos proporciona roupa barata, em tamanhos variados e com uma infinidade de modelos.

Mas, na prática, é um ciclo que prejudica o meio ambiente, explora trabalhadores e ainda incentiva um consumo sem consciência. Quando uma peça custa menos que um lanche, alguém — ou algo — está pagando essa conta. E não, não somos nós no caixa. No documentário “A conspiração consumista” tem uma frase que diz que “tudo que é muito barato tem uma consequência por trás e em algum momento vamos nos deparar com ela”, e nós realmente vamos, pois não existe “jogar fora” ou “planeta B”.

Deserto do Atacama visto do espaço, as partes cinzas são roupas levadas até lá e descartadas
de forma indevida.

 Farei uma outra postagem detalhando melhor os impactos da fast fashion e da indústria da moda no planeta, mas espero que tenham aprendido um pouco sobre a história e sobre impactos desse modelo de produção. Só quero lembrar que isso não é um Ultimato e não estou dizendo “nunca mais compre em fast fashion”. Sei que temos a questão da realidade social e econômica de muitas pessoas em nosso país, onde comprar em fast fashions é a única maneira de se vestir bem, de um jeito que gosta e esse post é apenas para que você entenda e questione a forma de consumir.

Se questionar é o primeiro passo pra repensar a forma como nos vestimos e, principalmente, o que estamos financiando com nossas escolhas.

Com carinho,

BC.

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