Entre no
nosso grupo!
WhatsApp
  RSS
  Whatsapp

  16:34

Governador de Santa Catarina fala em fazer o 'país do Sul': de onde vem o separatismo sulista?

 Jorginho Mello em evento com Leite e Ratinho Júnior:

"Daqui a pouco, se o negócio não funcionar muito bem lá para cima, nós passamos uma trena para o lado de cá e fazemos 'o Sul é nosso país', né?"

Foi assim, em tom de brincadeira, que o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), sugeriu aos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que separassem seus Estados do restante do Brasil.

Eles dividiram o palco na última quinta-feira (12/6) em um evento em Curitiba realizado por uma entidade da construção civil.

Mello fez referência ao movimento O Sul é Meu País, que há mais de 30 anos defende a separação da região e a formação de uma nação autônoma.

A fala trouxe à tona um tema antigo e recheado de contradições, na visão do pesquisador da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Gabriel Pancera Aver, que estudou o movimento em seu mestrado em sociologia e aprofunda a investigação agora no doutorado.

"A fala do Jorginho Mello não leva em consideração, por exemplo, que uma catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul como a do ano passado precisou obrigatoriamente do apoio do governo federal", ele destaca.

"Se é pra falar de política social, porque se tem a ideia de que o Nordeste é quem usa e o Sul não — o que é uma falácia —, então ser sulista vem primeiro. Agora, se é uma catástrofe ambiental da qual o Sul não consegue se recuperar, aí somos todos brasileiros e façamos solidariedade", completa Aver.

As origens

Iniciativas que buscam apartar o Sul do restante do Brasil remontam aos tempos do Império e da Primeira República.

Aver cita como exemplos a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul do século 19, e a Guerra do Contestado, em Santa Catarina e no Paraná, no início do século 20. Ambos conflitos que se opunham diretamente ao governo central.

Nesse sentido, ele destaca que, nesse período, não apenas o Sul, mas províncias de outras regiões entraram em rota de colisão com o Rio de Janeiro, na época a capital.

Houve, por exemplo, a Cabanagem, na então província do Grão Pará, e a Guerra de Canudos, no sertão da Bahia, ambas no século 19.

"O Brasil é unificado em cima de uma série de violências", comenta o sociólogo, referindo-se à repressão aos movimentos que se opunham à centralização do poder naquela época.

"Um pouco [do separatismo] vem dessa lógica de como o federalismo brasileiro é construído, mas puxar isso para o século 21 com O Sul é Meu País é outra conversa", ele acrescenta.

'Somos sulistas'

O grupo surgiu em 1992, em uma época em que o país estava mergulhado em crise e o tema do separatismo na região ganhava novo fôlego com o aparecimento de diferentes movimentos, como o Pampa Livre e a tentativa de criação do Partido da República Farroupilha, que com o tempo arrefeceram.

O Sul é Meu País, por sua vez, sobreviveu às últimas décadas e tem ainda hoje um discurso centrado em um antagonismo forte em relação ao governo central, no caso, a Brasília.

A retórica é de que a região seria prejudicada pelo pacto federativo: contribui muito com impostos para os cofres do governo federal, mas recebe pouco em serviços públicos.

Não seria esse, contudo, o único fator que manteve a ideia de separatismo viva na região. Para o pesquisador, ainda que a influência do grupo oscile a depender do período, sua força vem do fato de ele abraçar a questão identitária.

"É um movimento que vai basear a separação muito mais no sentimento de 'somos sulistas' do que em um algo econômica e politicamente substancial", avalia Aver.

Fonte: G1

Mais de Política