
Dois jovens das cidades de Nova Santa Rita e um de São João do Piauí denunciaram que foram torturados e obrigados a manter relações sexuais entre si durante uma sessão de tortura feita por policiais militares da 2º Companhia do Batalhão Militar de Simplício Mendes. "Forçaram o rapaz a tirar a roupa e me mandaram deitar em cima e fazer sexo com ele", disse um dos rapazes ao g1.
Em nota, a Polícia Militar do Piauí informou que instaurou um procedimento administrativo para investigar a conduta dos agentes de segurança.
O estudante Francis Júnior, de 18 anos, relatou que ele, seu irmão chamado Francis Sousa, de 23 anos, e um primo deles chamado Ryckelme Harry Leite, de 21, sofreram um acidente de trânsito, no início da tarde do dia 2 de junho na PI-249, entre as cidades de Simplício Mendes e Paes Landim, no Piauí.
Uma viatura da Polícia Militar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados para o local. Segundo Francis, os três envolvidos no acidente foram levados ao hospital. No entanto, como ele apresentava ferimentos mais leves, foi conduzido de volta à rodovia pelos policiais militares.
O rapaz explicou que eles estavam indo ao Povoado Morro dos Cavalos, em Simplício Mendes, para comprar uma motocicleta e que os agentes de segurança desconfiaram que o grupo pudesse estar planejando furtar animais ou usar drogas nas cidades próximas.
"No hospital, ele pegou celular, mas não encontrou nada. Lá ainda, ele me deu dois murros. Entrei na viatura com eles e foi nesse momento que eles começaram a me espancar e me deram coronhadas. Quando chegamos no lugar do acidente, eles me trocaram de viatura e me deixaram trancado no camburão", relatou o rapaz.
O jovem contou ainda que, após ser agredido na viatura, foi levado para a unidade policial, local onde as torturas se intensificaram. De acordo com o rapaz, os agentes disseram que iriam matá-lo caso ele gritasse.
"Eles me disseram que eu tinha escapado do acidente, mas que não ia escapar da surra que iriam me dar. Aí me jogaram no chão, amarraram um pano na minha boca e começaram a jogar um balde cheio d'água na minha cara, aos poucos. Eu fiquei sem ar e comecei a babar. Depois, me levantaram e me bateram mais", disse.
Ainda conforme Francis, os policiais saíram, retornaram com o seu irmão e o primo e repetiram a ação de sufocá-los com água. Os PMs ameaçaram os jovens dizendo que um deles teria que assumir que estava planejando um roubo. Caso contrário, os três seriam assassinados.
"O rapaz ficou apavorado com as ameaças e disse que iria roubar os animais. Depois, mandaram o meu irmão dar um tapa na minha cara e me forçaram a chutar o outro cara. Aí mandaram esse rapaz tirar a roupa e me obrigaram a deitar em cima e fazer sexo com ele", concluiu o jovem.
'PMs aproximaram cabo de rodo em nossas partes íntimas'
Ryckelme Harry Leite tem 21 anos, é natural da cidade de São João do Piauí e atua como ajudante geral em uma empresa na cidade. O rapaz contou que irá levar o trauma para o resto da vida.
"Me botaram no chão e começaram a chutar o meu peito. Depois abaixaram a minha roupa e chegaram a aproximar um rodo atrás de mim, mas não penetraram. Aí mandaram o menino subir em cima de mim e ficar se esfregando. Eles também enfiaram uma arma na minha boca", contou Ryckelme.
O rapaz revelou que após a sessão de tortura, foram liberados pelos policiais militares.
Os três rapazes não possuem antecedentes criminais registrados.
Ministério Público apura o caso
Após o ocorrido, os jovens, por medo, não registraram boletim de ocorrência na delegacia de Simplício Mendes. O advogado do caso, Dr. Eduardo Marques, levou os rapazes diretamente ao Ministério Público, no dia 5 de junho.
O Ministério Público do Piauí (MPPI), através do promotor Vinicius Nunes, iniciou as diligências para apurar o caso que, posteriormente, foi levado para a 9º Promotoria de Teresina. Conforme o dr. Vinicius, os rapazes estavam com medo de procurar a Polícia Civil.
"No dia do acidente, eles foram atendidos no hospital, só que os policiais estavam lá, então eu desconsiderei, já que é muito complicado. Sabemos que médicos têm medo de fazer um laudo em casos que envolvem violência policial. Por isso, solicitei um novo exame de corpo de delito no IML de Picos", disse o promotor.
O laudo pericial deve sair em cerca de quatro dias.
O promotor declarou ainda que a repercussão do caso pode motivar outras vítimas a denunciarem casos semelhantes. Segundo ele, um outro rapaz procurou o MP para denunciar também um caso de violência policial na cidade.
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