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  08:42

OPINIÃO - O encarceramento pago no show de Marília Mendonça, em Campo Maior

"Infelizmente, o parque já foi acusado várias vezes de desrespeitar os direitos dos consumidores, pois, em anos passados, o espaço denominado “PISTA” não ofereceu conforto necessário."

 Foto: Reprodução

Recentemente a cantora Marília Mendonça esteve realizando um show na cidade de Campo Maior, em um conhecido parque de vaquejada. Milhares de pessoas participaram da festa, mas não passaram pela situação pela qual me encontrei. Juntamente comigo, outras pessoas também tiveram problemas com a organização do evento.

 

Descreverei aqui todo o acontecido, desde o começo, até a "baixaria de gritos", proporcionada por um dos organizadores do evento, que se encontrava na entrada do show e não se identificou.

 

Cheguei ao parque em que houve o show por volta de meia-noite, logo na entrada um dos seguranças cobrou 10 reais para o estacionamento. Eu nunca tinha visto um estacionamento ser pago logo no momento em que o carro chega, geralmente (e logicamente) isso acontece quando a pessoa volta para pegar o veículo. Ao ser indagado sobre algo que comprovasse que o carro seria protegido e se nós receberíamos um comprovante, o segurança respondeu rindo: "O comprovante é a minha cara feia mesmo". Tudo bem.. Deixamos passar..

 

Logo depois tivemos que entrar em uma enorme fila, que durou cerca de 30 minutos para a área “FRONT”. Entreguei o ingresso que comprei (65 reais), entrei e me foi colocada a pulseira do “FRONT”. Até aí tudo bem.

 

Passando mais de 01h00min da manhã, minha mãe, que também estava no show, decidiu ir até o carro para trocar o salto alto por uma sandália rasteira, e me pediu que eu a acompanhasse até o carro. Ao chegar à portaria da PISTA, minha mãe disse que iria trocar de sandália para um dos seguranças, que deixou ela sair e avisou que eu só poderia sair se fosse pela entrada do “FRONT”, então fui até o local.

 

Quando eu estava saindo do show, fui alertado por um dos seguranças que se eu saísse não poderia mais entrar, e de que se eu quisesse entrar novamente deveria comprar outro ingresso. Questionei a atitude: “Por que isso? Eu estou fazendo uso de uma pulseira que prova o pagamento que fiz para poder assistir o show da Marília! Por que eu não posso sair?”.

 

Clientes insatisfeitos também reclamam:

 

Logo depois, um homem chegou com sua esposa e tentou sair, e também foi alertado. O homem prontamente se identificou como advogado e mostrou sua carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), alegando que ele iria até ao seu carro pegar a sandália da sua esposa que está grávida, ele então foi autorizado por um homem que aparentemente estava organizando a entrada.

 

Assistindo a tudo, perguntei para as pessoas que estavam na mesma situação que a minha: "Quer dizer então que para eu poder sair só seria possível se eu tivesse a carteira da OAB?", então, permaneci no local e perguntei educadamente ao senhor da organização se ele tinha, naquele momento, um exemplar do código de defesa do consumidor para que eu fizesse uma consulta.

 

O exaltado senhor, aos berros, me perguntou o que eu queria saber, e eu disse que queria apenas saber se a organização do evento possuía um exemplar do código de defesa do consumidor para fazer uma consulta.

 

Gritando, ele me respondeu com as seguintes palavras: “Me pergunte o que você quiser saber que eu respondo! Olhe! Vou lhe dizer quatro coisas, a primeira é que eu tenho uns 50 parentes que são advogados, e segundo, que eu tenho outros 50 parentes doutores, médicos e dentistas”. Faltando duas coisas, eu perguntei: “E a terceira e a quarta?” Ele disse: “Não interessa”!

 

Continuando com a cena desnecessária e degradante, o referido senhor disse aos berros que ele não era formado em nenhum dos cursos, mas que seus parentes ensinavam a ele. E como se não o bastante, um dos seguranças quis se intrometer na discussão e disse: "Quando você entrou você não perguntou se podia ou não sair então você não pode exigir".

 

Essa foi toda a situação pela qual passei na madrugada do dia 11 de junho. Agora eu pergunto, de que me ajudou, como consumidor, a informação de que ele (organizador) possui uns 100 parentes formados? E outra, por que ele achou que, gritando, conseguiria impor que eu não poderia acompanhar minha mãe até o carro para pegar a sandália?

 

O grande problema que percebi foi a falta de comunicação e de bom senso da organização do evento. Em nenhum momento, através das suas redes sociais ou outros veículos de comunicação, o parque que realizou o show divulgou a informação de que não se poderia sair do show e depois voltar. E vieram querer fazer isso logo quando as pessoas já estavam dentro.

 

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 6º, inciso III, é direito básico do consumidor: “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”. (Inciso acrescentado pela Lei nº 12.741, de 08.12.2012.)

 

Esse trecho do CDC é bem claro! É preciso que os clientes sejam informados de todos os limites que organização “quer”. Caso contrário, não se pode exigir que o consumidor seja obrigado a cumprir, pois é informação é desconhecida.

 

Divulgação nas redes sociais não informa que as pessoas não podem mais sair, ao entrarem:

 

Infelizmente, o parque já foi acusado várias vezes de desrespeitar os direitos dos consumidores, pois, em anos passados, o espaço denominado “PISTA” não ofereceu conforto necessário, além do mais, a proporcionalidade dos espaços divulgados não coincidiu com a realidade. Inclusive, por meio de ação civil pública do Ministério Público do Piauí (MP-PI), houve a concessão de uma liminar suspendendo a realização da referida vaquejada, no ano passado, até que a documentação necessária para a realização do evento fosse apresentada.

 

Por causa dessas reclamações, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ano passado, fez uma nota pedindo que fosse alterada a divisão do espaço onde estavam sendo realizados os shows e uma maior aproximação ao palco, para permitir que os consumidores tenham melhores condições.

 

E nesse ano, de novo! A OAB teve que se manifestar novamente para pedir uma maior extensão do espaço “PISTA”, para que ele chegue até a parte cimentada. Quer dizer que todos os anos é preciso a OAB pedir para que sejam cumpridas as informações divulgadas? Paciência..

 

Com todo respeito que tenho os senhores idealizadores da festa, peço a vocês, que, lendo esse texto, possam procurar melhorar a qualidades dos serviços, pois não é só tendo uma mega estrutura que tudo se resolve, isso envolve também a forma de tratamento aos consumidores. E outra, procurem obedecer a meia-entrada, que é lei! Nós estudantes temos o direito!

Por Helder Felipe

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