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  13:02

13 DE MARÇO: Dia de luta, sangue e coragem

O Em Foco segue os passos dos heróis do jenipapo e conta como amanheceu Campo Maior, as horas de luta e o balanço negativo no final do dia.

 Foto: Reprodução

O dia da batalha chegou 
13 de março de 1823. Campo Maior estava diferente de todos os outros dias de sua história. A vila estava agitada como nunca antes. O povo jamais estivera tão ansioso. Ao mesmo tempo em que corria nas veias dos mais pobres a esperança de melhorar de vida e acabar de vez com as opressões.


A movimentação teve início logo nas primeiras horas da madrugada. A vila acordava com a chegada das tropas do Capitão João da Costa Alecrim e do Alferes Salvador Cardoso de Oliveira. “Cansadas ao extremo, entraram em Campo Maior as tropas de Alecrim e Salvador”, escreveu Monsenhor Chaves. 


As duas tropas foram chamadas do Estanhado (hoje a cidade de União) depois que o comandante de Campo Maior, Capitão Luís Rodrigues Chaves, percebeu que o governo da capital Oeiras não lhe mandaria munição e muito menos homens. 


Rodrigues Chaves que já havia percebido que não contaria com ajuda, persuadiu o povo campomaiorense para pegar em armas e enfrentar as tropas opressoras. O historiador Monsenhor Joaquim Chaves contou sobre o líder militar. “Não era homem para esmorecer. Havia apelado para o povo de Campo Maior e contou com ele na hora decisiva. Em poucos dias de mobilização ele pode levantar mais de mil homens de todas as classes sociais, prontos para o que desse e viesse”. 


Antes de o sol surgir naquele dia os homens começam a deixar suas casas com armas, facões e foices. Os passos marchavam para se juntar com as tropas de cearenses e maranhenses que se encontravam posicionadas na frente da Igreja do padroeiro Santo Antônio. Não podiam perde tempo. Depois das orientações do Capitão Luís Rodrigues Chaves, seguiram para o combate. “Iam com a certeza do triunfo”, diz Monsenhor Chaves. 

 

Chega a hora do confronto 
Rodrigues Chaves teve informações que a tropas portuguesas de João José da Cunha Fidié estava numa fazenda próxima desde a noite anterior. O Capitão temia o avanço do inimigo. Autorizou que a marcha fosse apressada. O destino dos independentes era as margens do riacho jenipapo, onde pretendiam impedir a passagem do inimigo. O local estava raso pela forte escassez de chuvas naquele ano. Passar por ali não havia muitas dificuldades. 


“O lado de cá do jenipapo era o local ideal para esperar as tropas de Portugal, que teriam de passar por ali. Os piauienses montaram uma espécie de guarida para esperar os portugueses”, conta o historiador Assis Lima. Cerca de 2 mil homens foram distribuídos entre duas passagem. A estrada era bifurca. Não se sabia por qual delas viria Fidié. Os independentes estavam à espera do adversário e prontos para mudar o trajeto da história nacional. 

 

Foto: Francisco Souza


A marcha do comandante português era lenta e cautelosa. Um pequeno confronto com forças independentes três dias atrás nas proximidades da Lagoa do Jacaré, em Piracuruca, anunciava ao experiente Fidié que em sua passagem por Campo Maior poderia ter novo embate.


Ao se deparar com a divisão do caminho, o comandante desceu com a maioria da tropa pela esquerda, enquanto deslocou um grupo para ir pela estrada da direita. Fidié usava suas táticas de guerra. Às 9 horas da manhã teve início o combate.

 

O primeiro confronto aconteceu no lado direito da estrada. O grupo brasileiro partiu ao encontro do inimigo, que foi perseguido. Sem noção militar, o grupo que estava posicionado a direita do rio partiu em ajuda. “Os grupos trocaram tiros e esse momento se desfaz o planejamento. Há uma retirada, um avanço sem comando. A grande dificuldade era o preparo. Houve uma debandada daquilo planejado a princípio por falta da experiência”, comenta Assis. 


Fidié passa além do rio sem resistência. “Ao perceber a manobra, os brasileiros já estavam cercados, de um lado pela cavalaria e, de outro, por 11 canhões que começaram a despejar sobre eles uma chuva de fogo”, conta Laurentino Gomes no livro 1822. Começava ali a mais sangrenta batalha pela Independência do Brasil. 


Joaquim Chaves descreve o embate em O Piauí nas lutas pela Independência do Brasil. “A fuzilaria e as peças de Fidié varriam o campo em todas as direções” Segundo o historiador, a tática do Capitão Rodrigues Chaves foi partir para o corpo a corpo. 

 

Foto: Artes Paz 


Cinco horas de intensa luta se passaram. Às 14h todos estavam cansados e sem força para continuar no campo de batalha. Os corpos dos independentes estavam em grande número mortos sob a vegetação. Os feridos buscavam abrigo, enquanto muitos fugiam para as matas. 


Fidié escreveu em seu livro, Vária Fortuna de um Soldado Português, o fim do confronto: “Resisti até o último apuro, tirando do campo inimigo, à ponta da baioneta, os víveres precisos para sustentar minha tropa, cheia de fadiga, e reduzida à circunstâncias mais penosas, até que certo de que não podia ser socorrido e não podendo mais nada honroso, capitulei”. 

 

O terror e a desordem na vila 
Um grupo de cearenses que fugia encontrou desguarnecida a bagagem do exército português. Alimentos e munições do inimigo foram levados. Com o fim do combate era hora do balanço.


Os números dos mortos e dos capturados são incertos. Calcula-se que cerca de 500 homens brasileiros foram presos e mais 200 morreram às margens do jenipapo. Fidié perdeu cerca de 16 soldados e outros 60 foram feridos.


No final da tarde os primeiros remanescentes da Batalha do Jenipapo chegavam à vila de Campo Maior. O terror foi espalhado entre a população. A informação é que os portugueses eram os vitoriosos e marchavam para a vila. 


Movido pelo espírito de vingança, três homens descritos como Joaquim Bento Pereira, Eufrásio e Félix invadiram a cadeia local e mataram 10 portugueses que ali estavam presos. 


“Campo Maior no memento ficou uma terra sem lei. Grupos cearenses que vieram em troca de pagamentos passaram a saquear as fazendas da região. Na cadeia pública se matou pessoas que estavam presas e se mostraram a favor da coroa portuguesa”, defende Assis Lima. 


Já o major Fidié não tinha condições de seguir com a tropa para a capital Oerias. Resolveu acampar na Fazenda Tombador, a poucos quilômetros da vila, para descansar e planejar seus próximos passos. 


A todo instante chegavam feridos as suas residências. Outras famílias buscavam notícias dos seus. A desordem era geral. A noite caiu. Terminava a data que mudou o caminho da história de todo o país. 

Por Otávio Neto

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