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  18:56

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

 

 Assim como como os grande filósofos se imortalizaram com suas frases geniais, como Sócrates em Só sei que nada sei; Shakespeare, Ser ou não ser; eis a questão e tantos outros que criaram suas máximas para a posteridade se valer delas diante de várias circunstâncias para dar vazão ao seu intento, Manuel Bandeira também deixou a sua máxima: Vou-me embora pra Pasárgada, onde comumente estamos a aludir essa expressão título quando menos esperamos ou queremos fugir de alguma situação difícil ou coisa semelhante.

Sobre belíssima obra, Bandeira assim se expressou:

..." foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] ... Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema " [...]

Escolhi este poema para dar continuidade na apresentação de alguns dos mais belos poemas de todos os tempos, da literatura brasileira.

Apreciemos, pois:


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada


 

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa e demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive


 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água


 

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada


 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar


 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

- Lá sou amigo do rei –

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada