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Todas as luas

 

Muitas luas
Joana olhou o céu e viu a lua no seu segundo dia crescente. Parecia um fiapo de luz amarelada num céu escuro. Apenas uma estrela a pouca distância completava o cenário de uma noite qualquer. Mais uma noite qualquer. A diferença era exatamente aquela lua ali, brilhando solitária sobre as cabeças dos humanos que ainda se dão ao trabalho de parar para olhar uma noite linda de luar. Ela se perguntou: “Quantas pessoas ainda fazem isso nos dias de hoje?” 


Joana pensou o quanto uma lua simples, ou uma simples lua podia fazer com a lembrança de alguém. Olhar o céu ou olhar a lua era natural, todo mundo olha, todo mundo ver, mas no seu caso tinha um diferencial... Acontece que um dia, há mais ou menos uns três anos, numa noite de amor, “ele” havia dito que sempre que olhasse a lua, de onde quer que estivesse,  se lembraria dela. A lua sempre seria um símbolo para se lembrar dela e do amor que viveram. Desde então ela passara a lembrar dele sempre que via a lua. Às vezes tomava um susto ao olhar o céu, às vezes sem mesmo procurar e se deparava com a lua, em qualquer fase – cheia, crescente ou minguante – e, quando isso acontecia, era inevitável. Como ela costumava dizer “fazia um compasso”: olhava a lua, lembrava dele. Era uma reta até a lua e outra reta da lua até ele, onde quer que ele estivesse. E onde estaria ele agora?


Não tinha certeza se com ele acontecia a mesma coisa, conforme ele prometera, mas as promessas de amor são necessárias, embora nem sempre sejam cumpridas. Fazem parte do romantismo que deve permear os relacionamentos quando se ama. Quando se quer bem. A gente diz muita coisa quando se está apaixonado. Coisas que no momento são verdades, mesmo que no instante seguinte não façam mais sentido. O certo é que no memento serviram para encantar. E o que seria do amor se não fosse o encantamento? Afinal é o encantamento que faz com que vejamos o objeto amado como um  ser especial e único. As verdades não são eternas, nem precisam ser. Sabemos que elas mudam conforme as circunstâncias. Tem prazo de validade. O que não podemos é mentir, dizer o que não sentimos. Mas não tem problemas se o que sentimos agora não seja o que sentiremos na próxima lua...


Talvez ele não lembrasse mais da promessa que fizera naquela noite, porque tantas luas já haviam se passado desde aquele dia! Talvez ele nem lembrasse mais que um dia a amara... Talvez até já tivesse amado tantas outras vezes e tantas outras Joanas... 


Nunca mais o vira, ou ouvira falar naquele rapaz. Parece que o chão se abrira e ele entrara. Mas ela tinha uma certeza, sempre se lembraria dele quando visse a lua. Mesmo que se passem todas as luas que quiserem passar. Até o dia em que não houver mais luas para olhar!