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O voto de cabresto e a oligarquia continuam mais ativos do que nunca no Piauí

 

O site americano “theintercept” publicou matéria sobre a compra e venda de votos no Piauí. Com o titulo “Um passeio pelo mercado do voto no interior do Piauí”, a jornalista Nayara Felizardo encontrou pessoas nas portas de casas, na virada do dia da eleição, no primeiro turno, esperando os compradores.

“Esse ano só estão distribuindo santinho. Dinheiro que é bom, nada”, reclamava uma moradora do bairro Escalvado, na periferia da pequena Amarante, no interior do Piauí, 156 km ao sul de Teresina. Perguntada quanto estava custando o voto, ele responde: “Depende de quanto a gente pede. Tem vez que é R$ 200, R$ 150, R$ 300. Varia”.

A matéria diz ainda que moradores ficam sentados na calçada em frente às casas, a espera, até a madrugada, a espera de compradores para os votos de deputado, senador e governador.

Toda eleição, a cena se repete. As portas das casas abertas até tarde da noite são o sinal de que os cabos eleitorais precisam para saber onde podem convencer eleitores – e até comprar votos. As cadeiras nas calçadas e o olhar atento dos moradores quando um carro passa mais devagar, também. Com 17.592 moradores, Amarante já teve eleição decidida por 3 votos de diferença. Cada voto conta.

Moradores de Amarante colocam as cadeiras na rua para conversar sobre os candidatos com cabos eleitorais. Foto: Thiago Amaral

A notícia produzida em Amarante poderia ser produzida com igual teor nas outras 223 cidades do Piauí. O voto de cabresto, nome criada no período Primeira República Brasileira, entre 1889 e 1930, continua a todo vapor.

Na eleição de 2018 foi mais acentuada. Alegando pouco tempo de campanha, candidatos focaram apenas às cidades polos. A visita aos municípios menores se deu nos gabinetes de campanha em Teresina, apenas com prefeitos, vereadores e lideranças dos municípios, que levavam aos eleitores apenas os santinhos dos candidatos e estes [eleitores] tratavam de polarizar a disputa.

Houve ainda exemplos, como em várias cidades da região de Campo Maior, em que candidatos conseguiram ter, por motivos óbvios, apoio de situação e oposição, algo bem complexo e difícil nas acirradas disputas municipais.

O prova mais clara é que faltando poucos dias para a eleição tinha políticos locais trocando de apoio ou declarando apoios. Neste último caso, esperaram até o imite para ver quem dava mais.

Eleitores vão aos comitês na véspera da eleição para pedir ajuda. Foto: Thiago Amaral. NO caso da foto, é a casa de Clemilton, que foi vice-prefeito de Amarante na gestão do prefeito Luiz Neto, do PSD. Ambos foram cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Piauí em 2014, por abuso do poder econômico, político e de autoridade.

Os argumentos para políticos locais votar em candidatos que nunca pisaram nos municípios são os mais variados ou, em alguns casos, não falam nada. O eleitor já sabe como é o processo, chega a comentar em rodinhas de conversa, mas vota. No final, os votos para o desconhecido candidato saem certinho nas urnas onde o “representante local” prometeu.

O voto de cabresto da Primeira República era uma forma tradicional de controle sobre a massa pobre, com o abuso de autoridade, a compra de votos, em troca de remédios, comida, ou dinheiro, tudo destinado aos coronéis que repassavam aos eleitores. Hoje, o sistema é o mesmo e ainda tem o uso claro da máquina pública com destinação de emendas para festas, para asfalto, ambulâncias, e outras ajudas aos municípios onde o deputado, senador ou mesmo o governador tem o apoio do prefeito. Este é o critério para o município ser comtemplado.

Na reta final da eleição, são os repasses semanais, claramente escancarados pelos políticos locais em roda de conversas entre si e até mesmo entre os adversários. Quanto menor a cidade, mas se sabe até quanto cada um recebeu.

A oligarquia, criada no mesmo período do voto de cabresto, justamente por um pequeno grupo de pessoas se manterem sempre no poder, também não foge dos dias atuais, Pelo contrário, está se intensificando. Além dos já tradicionais políticos que estão no poder há décadas no Piauí, novos conseguiram enxergar uma boa forma de se manter e aumentar a força, nomeando esposas, filhos, sobrinhos, irmãos, mãe, ente outros. A lista é grande e começa pelo govenador Wellington Dias e sua esposa Rejane, Ciro Nogueira e Iracema, Flávio Nogueira e Junior, Júlio Cesar e Georgiano, e nesta última eleição Themístocles Sampaio e o filho, e Firmino Filho, prefeito de Teresina, e a esposa.

Se a “república dos coronéis” foi um período em que a democracia era apenas uma farsa na política brasileira, com votos nada espontâneos, a República atual não merece nenhuma exaltação.

Da Redação

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